É certo que vamos passar os nossos dias num traçado montanhoso, com curvas e contra-curvas, de fraca visibilidade e de largura reduzida. Cada curva, cada recta é negociada com a velocidade, ângulo, traçado, cada vez mais rápido, cada vez mais confiante.
Chegamos a uma curva fechada, reduzimos a velocidade e preparamos para apontar a caixa para uma ou duas relações mais abaixo. O pavimento não era o que esperávamos, calculámos mal a velocidade, virámos de mais... damos por nós a perder o controlo. Damos por nós a subvirar, com velocidade a mais e atrito a menos, perigosamente perto do rail. O nosso coração dispara, preparado a levar a adrenalina a todo o lado. A nossa percepção do tempo perde-se e começamos a pensar, não no que pode acontecer, mas no que não queremos que aconteça. Soluções. Ideias.
Sim, perdemos o controlo. E nem sempre é por arriscar em excesso, mas por falta de risco em situações anteriores. Abusar dos limites que conhecemos é destruí-los, e fazer novos um pouco mais além. É conhecer melhor as próximas curvas, é conhecer a temperatura ideal dos travões, o rasto dos pneus, a potência do motor. A potência...
Largamos o travão, libertamos a direcção um pouco, e voltamos a ter algum controlo no sentido que tomamos. Esmagamos o acelerador em 2ª e sentimos a traseira a chicotear, arrastada pela frente. O tempo volta ao formato original, a nossa visão perde o foco, o coração bate para fora do peito. Damos pela respiração que não sabíamos estar ofegante. Seguimos caminho, mais devagar, mais desajeitados.
Vamos voltar a arriscar, claro. Vamos voltar a testar a veracidade dos nossos limites. Vamos chegar a perder o controlo para termos o prazer de o ganharmos de novo. Quando chegarmos ao final, vamos ter pena que tenha acabado...
...mas foi uma viagem do caraças,
o Homem do Meio.
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