segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vinte mais um

"Não por muito tempo."
Pensava eu.
Deitado, acordes elucidativos de guitarra ao ouvido. Mãos na cara, que o sol incomoda.
"Não por muito tempo."
20+1 era a minha idade. A verdadeira. Há um a mais.
"Não por muito tempo."
Fim da música, fim do tempo, fim da espera. Memórias retiradas da parede, pedaços de cartão e plástico retirados das memórias. Cinquenta perguntas de cultura geral numa caligrafia familiar para ocuparem o lugar vago.
O corte aleatório da tesoura dita o fim, a última inspiração profunda de uma recordação moribunda. O vidro contra o papel e a madeira presa por um prego tornam tudo isto permanente.
20+1 era a minha idade.
"Então e agora o que faço com estes 21?"
Bem, agora pegas no telefone para falar com uma desconhecida.

Eu sou o Homem do Meio. 50 perguntas para uma resposta. Até um dia.

domingo, 18 de outubro de 2009

1988

Eu até podia dizer que o rapaz é original. Pintá-lo de amarelo especial ou laranja único. Mas não estou aqui para enganar ninguém. Gosta por todos os clichés que já foram apontados, sejam sorrisos do reencontro, ou olhares surpresos. E a culpa nem é dele.

Temos também aquela insegurança, a timidez que reduz (drasticamente) o número de palavras que lhe saem da caixa de voz. Ah, claro, não me posso esquecer do medo. Medo burocrático o dele, que submete a escrutínio qualquer frase, passo ou acção que possa forrar a vidro aquilo que lhe vai na alma.

Tudo isto se junta, estas coisas por dizer, com as suas mãos (que por sua vez convidaram as carícias que sempre aguardam pelo passeio prometido), nos bolsos que guardam também o telemóvel, ansioso por notícias que nunca chegam.

Acabo por ter alguma pena do pobre coitado, nas alturas em que ele se odeia, quando o "tenho de ir" o separa em dois, entre a parte que sempre fica mais um pouco, mais perto, e a parte que gostaria de o fazer. São metades que nunca se recuperam, e ele sabe-o, sente-o, sempre que a porta se fecha ou o motor se liga de novo. Mãos à cabeça, sorriso torto, o pobre coitado.

Mas claro, nada é construído na integra com peças defeituosas. E haverá decerto alguma luz naquela intenção de escolher o bom caminho. Quanto ao resto, não acho que ele fosse capaz de estar aqui a escrever sobre si próprio para falar nas coisas boas que ele acha que é. Isso é para outro sítio.

E foi isto que saiu de 1988.

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Conto n.º 1

Era uma vez...

Uma empresa de móveis.
Vendiam todo o tipo de móveis.
Montados, por montar, madeira, ferro, caruncho, para a sala, casa-de-banho e quarto, para o menino e para a menina.
E o negócio corria bem.
Mas eis que veio a crise.
E algo estranho aconteceu.
O negócio continuou a correr bem.
(Surpresa!)
Que o digam os panfletos que decoram semanalmente o pára-brisas do meu carro...

IRRA!

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Who Says?

"Who says I can't be free?
From all of the things that I used to be
Re-write my history
Who says I can’t be free?"
- John Mayer - Who Says



Quem diz que não podemos escrever sobre aquilo que nos apetece?
Quem diz que não podemos aprender a tocar guitarra?
Quem diz que não podemos ser bem sucedidos?
Quem diz que não conseguimos transformar uma lágrima num sorriso?
Quem diz que não podemos procurar força fora de casa?
Quem diz que temos de ser iguais a todos os outros?
Quem diz que o raio do miúdo não podia fazer barulho?

Quem diz que o Homem do Meio existe? Até um dia.

domingo, 11 de outubro de 2009

O Homem do Meio disse-me...

"(...)
The pictures on the wall, they remind us all that things have got to change or else they still remain
(...)"
- Never Forgotten - Toploader

Andas ocupado.
Vais estar ocupado.
Não sabes como vão ser os próximos dias.
Tretas.
Tens é medo de desdobrares aquele papel e pegares no telefone.
Isso sim.

.

sábado, 10 de outubro de 2009

Achilles Heel

Todos temos um calcanhar de Aquiles. Alguns até um dedo de Aquiles. Ou um coração de Aquiles. E o que todos tentamos fazer é separar-mo-nos um pouco mais dessas fraquezas, torná-las fortes como o nosso punho fechado, e quem sabe se um dia deixarão de nos conseguir magoar.

Uma pequena lembrança.
Achilles Heel - Toploader:


Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

How To Say I Love You

Isto podia dizer muito sobre muita coisa, sobre mim.
Mas é só um pequeno filme.



Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

domingo, 4 de outubro de 2009

Writer's choice...

1. Classic BIC (Medium, Blue);
2. Custom Notebook (Christmas Gift Edition) / Moleskine (Small, Dark Blue);

Write On!

sábado, 3 de outubro de 2009

Revelações

Engraçado.
Engraçado como aquilo que era suposto estar esquecido e enterrado, volta, anos depois, para nos atormentar.
Mentira.
Mentira porque nunca tinha sido nem esquecido nem enterrado, muito menos distante, condição necessária ao regresso.

Limites.
Há um limite. Em que as emoções se tornam asfixiantes, em que aquilo que queríamos esquecido se reafirma, usando o nosso corpo para projectar, não imagens, não um qualquer drama literário adaptado a filme rasco, mas maleitas. Projectar maleitas.

Psicossomático.
Tudo para dizer que sofreste demais, torturaste-te demais, à tua mente, e demais porque agora torturas o teu corpo, de forma involuntária. Agora desfiguras-te com essa culpa infundada.

Revelações.
Leveza.
Alívio.
Por ouvir palavras como "coragem" e "orgulho" de alguém com o distanciamento necessário para ter a credibilidade que ultrapassa a teimosia.

Engraçado.
Como me sinto agora.
Engraçado vir a precisar de tudo isto para conseguir finalmente ter alguma paz.

Eu sou o Homem do Meio. Closure. Até um dia.