segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Keep Me Where The Light Is - Final

Não me tinha esquecido da história. Só não sabia o que dizer. Do vosso lado direito encontram o link para as outras 3 partes.
Como não gosto de assuntos por acabar...

"...depois da discussão, ela saiu. E foi logo ter com ele. Se não fosse o acidente e aquilo que as malas levavam dentro do carro, ninguém sabia que eles estavam juntos. Nem eu" - Contava a nossa personagem, naquele alpendre, sentado no chão de pedra fria. Ela, sentada na cadeira de baloiço, encolhida, com a chávena de café na mão, ouvia. Finalmente tinha-o posto a falar, aquilo que eu, o seu narrador, mais queria.

Antes do espectáculo já ela tinha reparado no seu vizinho. E a sua adorável sensibilidade já se tinha apercebido da cara de fardo que ele usava todos os dias. Depois do bar, e contra aquilo que eu esperava, ele aguardou pacientemente à porta dela, que ela chegasse, para lhe pedir desculpa. Ainda falaram, um pouco, e combinaram encontrar-se. E sucederam-se as sessões no alpendre. Em conversa ou em música. Alguns meses depois já quem ele tinha deixado para trás sabia de tudo, graças à voz da razão que ela conseguia ser.

Ela também tinha o seu próprio passado. Que ele conseguia fazer desaparecer. Antes fosse o contrário. Teria algo que a distraísse daquele sentimento que a ligava a ele, embora soubesse que ainda havia alguém a ocupar aquele espaço. Ela sofria. Ele sentia-o, mas nunca percebeu. Até ela não o suportar mais. Acompanhada da guitarra, cantou para ele, com lágrimas a escorrerem pela cara, em paralelo com a chuva que se fazia ouvir. Como quem confessa tudo. No final, um beijo, antes de pedir desculpa - "Não consigo fazer isto..." - e entrar em casa. Sem palavras, a única coisa que ele conseguiu fazer foi andar. Mais uma vez eu desejava não ser só o narrador. Fazê-lo voltar para trás. Mas ele não saiu da chuva, continuou a andar enquanto pensava no quão cego tinha sido. Havia meses que não pensava no que tinha acontecido. Havia meses que ansiava pelas sessões do alpendre. Queria saber mais sobre ela. Desde que se sentou naquele banco no bar que queria saber mais sobre ela. Mas para ele era difícil perceber aquilo que sentia, como sempre foi. E voltou para trás, a correr, como contei no início.

Bateu à porta. Ela abriu, alguns minutos depois, ainda com lágrimas nos olhos. Ele, encharcado, magoado. Mas sorriu, e aquilo que disse a seguir fez com que ela também o fizesse...

- "Please, keep me where the light is..."

Espero que tenham gostado,
o Homem do Meio.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Rebelled.

To resist or defy an authority or a generally accepted convention.

É apenas justo que se queira uma nova história. Que se queiram apagar os silêncios, aceitar tudo o que ficou por dizer, perceber a distância. Perguntar amavelmente pela relevância das nossas personagens na narrativa. Delinear a verdade que queremos que o seja, em paralelo com aquilo que o nosso âmago grita. 

Parece fácil. Até chegar a óbvia oposição. É do interior que vem. O que achamos ridiculamente inalterável. A sensação de impotência e a confiança com a apatia. A mera percepção faz-nos querer partir aquilo que nos rodeia. Faz-nos querer lutar. Sujar as mãos em nós. Mas faz-nos mudar. A melhor parte.

Quando o pó assenta, a distância é ínfima, de repente. Aquilo que ficou por dizer não nos fere, porque agora tudo se diz e sobre tudo se fala. E quanto ao silêncio...bem...acho que tens uma história para contar, não?

Viva la revolución,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Diálogos com o próprio

Porque é que escrevo? Começou por ser uma forma facílima, e muito mais elegante de gritar. E, tal como o gritar, também na escrita se alivia turbilhões emocionais. Depois disso, talvez por ser a forma mais simples de criar, acessível a qualquer um. Até a mim, cuja auto-estima esquelética me impede de achar bom o que quer que faça. Mas porque é que me faz tanta falta? Eu ressaco da falta de escrita. Tal como ressaco de saudades de algumas pessoas, da falta de intimidade ou da falta de queijadas de Sintra. Sabe bem meter a caneta ao papel. E dói a falta de inspiração. O que será amanhã o almoço? Mas tu 'tás a falar a sério? (cof, cof)

Para que se saiba,
o Homem do Meio