domingo, 18 de março de 2012

Avenue

A avenida rodeia-se de grandes edifícios, linhas retas, nomes imponentes. A azáfama que a preenche nas primeiras horas do dia fá-lo também quando ele acaba. O sol desce e o caminho para casa é agora feito com uma calma ilustrativa de um sentimento de dever cumprido, ou talvez cansaço, ou até, quem sabe, uma vontade de demorar por aquelas moradas. A avenida tem disto. De tudo e de nada, para que se lembre quem por ali passa o que é ter e o que é não ter. A avenida mostra um lado talvez irreal de uma cidade que já viveu melhores dias, mas pela qual trabalha para que isso melhore. Mostra o resultado de grandes ideias e por isso incentiva quem por lá passa a tê-las para que o seu nome faça parte de algo maior. 
Das primeiras vezes que vi a avenida, foi isto que me veio à cabeça. Mais que um aglomerado de betão e vidro, era um significado. Lembro-me de partilhar conversas enquanto passava por ela, lembro-me de falar sobre o quanto gostava de estar ligado àquele ambiente, lembro-me de sentir um reboliço por dentro que me fez agarrar áquilo que pude para estar cada vez mais perto… O que me ocupa a mente tem a vontade de empurrar para o lado estes antigos objetivos escritos a sonho. Mas naquele final de tarde, juntamente com a melancolia, a avenida fez-me lembrar as conversas que se tiveram e o gosto por aquele ambiente de inovação e empreendedorismo. Lembrou-me o quanto aprendi. O quando de mim inventei. O quanto de mim descobri. 
Hoje em dia caminho diariamente pela avenida. 

E a vontade de ficar não mudou, 
o Homem do Meio.

segunda-feira, 5 de março de 2012

The Key - Parte 1

Levantou-se devagar depois de dar por si sentado no chão, junto a um dos pilares do parque de estacionamento. Sentia a cabeça a latejar, tonturas e um enjoo sintomático de um possível traumatismo. A boca sabia a sangue, as suas mãos e roupas estavam cobertas dele. Não se lembrava do que o poderia ter levado ali, ou do que o poderia ter deixado naquele estado. Já de pé, as dores de cabeça aumentavam e a sensação de vertigem também. Decidiu caminhar em direcção à luz que emoldurava uma das portas à sua frente. Talvez uma saída, perfeita para ele, que só pensava em poder respirar ar puro. Enquanto caminhava - devagar e aos ésses - percorria com as mãos a sua roupa à procura de algo. Além da carteira completamente vazia, do telemóvel partido (que tinha retirado do chão) e da camisa branca tingida de sangue, sobrava um pequeno objecto preto, brilhante, com algumas saliências e uns quantos botões que se conseguiam distinguir com o toque. Parou de andar. A visão turva não o deixava perceber sequer os seus contornos, e não tinha qualquer recordação de trazer consigo algo parecido. Aquilo que mais lhe chamava a atenção era um botão em forma de losango, prateado, alinhado ao centro. Sem sequer pensar, resolveu carregar. Que nem uma navalha de ponta e mola, saltou de dentro do tal objecto misterioso uma chave, o que o levou a pensar que seria a chave de um carro. E enquanto se interrogava sobre a origem daquela chave, ao longe, no escuro, ligavam-se dois faróis. Uma ignição, e ligava-se um motor de trabalhar rouco. Com um arranque violento, este carro avançava como um relâmpago em direcção a ele, demasiado fraco para correr para refúgio. 

 Acordou, lavado em suor, sentado involuntariamente na cama e com a cabeça ainda a latejar. Olha em volta para descobrir que está no seu quarto, onde se deitou faz algumas horas. A sua respiração ofegante acalma. Na sua mesa de cabeceira descansa a chave que encontrou no sonho. E tal como então, a sua origem continua uma surpresa.

To be continued,
o Homem do Meio.