domingo, 18 de outubro de 2009

1988

Eu até podia dizer que o rapaz é original. Pintá-lo de amarelo especial ou laranja único. Mas não estou aqui para enganar ninguém. Gosta por todos os clichés que já foram apontados, sejam sorrisos do reencontro, ou olhares surpresos. E a culpa nem é dele.

Temos também aquela insegurança, a timidez que reduz (drasticamente) o número de palavras que lhe saem da caixa de voz. Ah, claro, não me posso esquecer do medo. Medo burocrático o dele, que submete a escrutínio qualquer frase, passo ou acção que possa forrar a vidro aquilo que lhe vai na alma.

Tudo isto se junta, estas coisas por dizer, com as suas mãos (que por sua vez convidaram as carícias que sempre aguardam pelo passeio prometido), nos bolsos que guardam também o telemóvel, ansioso por notícias que nunca chegam.

Acabo por ter alguma pena do pobre coitado, nas alturas em que ele se odeia, quando o "tenho de ir" o separa em dois, entre a parte que sempre fica mais um pouco, mais perto, e a parte que gostaria de o fazer. São metades que nunca se recuperam, e ele sabe-o, sente-o, sempre que a porta se fecha ou o motor se liga de novo. Mãos à cabeça, sorriso torto, o pobre coitado.

Mas claro, nada é construído na integra com peças defeituosas. E haverá decerto alguma luz naquela intenção de escolher o bom caminho. Quanto ao resto, não acho que ele fosse capaz de estar aqui a escrever sobre si próprio para falar nas coisas boas que ele acha que é. Isso é para outro sítio.

E foi isto que saiu de 1988.

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

4 comentários:

M.A. disse...

O cliché apelava a que escrevesse "a colheita de 89 é melhor". Mas nem isso o é.

Baltazar disse...

se esse fenómeno que saiu em 1988 fizesse menos drama e tratar bem o seu amuleto da sorte, as coisas tomaram um caminho muito melhor xD =P

abraços Middles

Baltazar disse...

*mudei os tempos de verbos de propósito xD

D.S. disse...

Seja qual for o tempo verbal, eu percebo a mensagem! XD