domingo, 25 de dezembro de 2011

Sou Eu


"Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, 
Espécie de acessório ou sobressalente próprio, 
Arredores irregulares da minha emoção sincera, 
Sou eu aqui em mim, sou eu. 

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou. 
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, 
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda, 
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa, 
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, 
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho, 
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas, 
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste!  Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio!"
Sou eu - Álvaro de Campos

Quando me levantar já não me volto a sentar.
Quando me calar já não volto a falar assim.
Quando sair já não volto a encontrar a mesma porta aberta.
Amanhã por esta hora celebra-se um final. Verdade seja dita...

Já tenho saudades,
o Homem do Meio.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

The Slowest Man On Earth

Uma coisa que em geral não faço é correr para apanhar transportes. Portanto não sei o que me deu para o fazer. O que sei é que se não tenho cuidado com o chão molhado ainda fazia uma entrada de pés juntos à rapariga que esperava para entrar na carruagem. Um pequeno slide, de uns ténis que eu não sabia que escorregavam. Malandros. Eu assusto-a, e logo de seguida peço desculpa ao mesmo tempo que me começo a rir. E a corar. Ela rapidamente me liberta de qualquer culpa e entramos na carruagem. Ela senta-se e eu, por falta de lugar, fico de pé junto à entrada. Aparenta ter a minha idade, é morena, cabelo liso, comprido. Aquele vestido ficava-lhe muito bem, para não falar daqueles botins de cano alto e as meias até ao joelho. Sim, é verdade, fiquei a olhar. Ela era gira, que posso dizer?
A carruagem começa a esvaziar, e três estações a seguir fica um lugar vago à frente dela. Adivinhem quem aproveitou? Se disseram a senhora que estava de pé mesmo ao lado, acertaram. Poker face. Mas na estação a seguir vem uma boa oportunidade. Na mesma à frente dela, mas desta vez ao pé da janela, vagou um lugar. Eu aproveito, “com licença, obrigado”, sento-me e volto a levar os auriculares aos ouvidos. Ela ainda se ri. Olho para ela, começo-me a rir também, abano a cabeça.
A parte que se segue está alinhada com duas manias que tenho: Número 1, sempre que ando de metro e me sento junto à janela, uso o reflexo dela nos túneis para olhar indirectamente para as pessoas à minha volta. Mas acho que não serei o único; Número 2, com o cabelo grande (maiorzinho, vá), ganhei o hábito de lhe mexer quando não tenho mais nada que fazer. Meto os dedos junto à testa e prossigo até que a palma esteja no topo da cabeça. Várias vezes. Fiz esta última e quando olho para o reflexo, ela está a olhar para mim. Pelo canto do olho, enquanto segura nos apontamentos, sorrisinho na cara. Eu não sou a pessoa mais confiante do mundo, portanto tudo isto estava-me a dar um gozo imenso. Claro. Viro-me calmamente, olho para a frente, olho para ela (que ainda olhava para mim), e pela velocidade com que colocou os olhos de volta aos apontamentos, não estava à espera de ser apanhada. Eu rio. Ela também.
Chega a paragem dela, antes da minha. Levanta-se, pega na mala, guarda os apontamentos, dá por mim a olhar para ela. Levanta-se, olha para trás. O metro pára. Olha para trás. Enquanto sai, olha para trás. Foi ela a pisar o chão da estação e eu a ouvir a ficha a cair. Depois de passar a porta, olha para mim pelo vidro. Eu nunca desviei os olhos. Estranho em mim, garanto. E se me tenho levantado um segundo antes (não depois) do aviso de fecho de portas, aposto que ainda a apanhava.

De qualquer forma, se não deu para mais, deu para me aumentares o ego. E obrigado.

Vejo-te...nunca?
o Homem do Meio.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Há em mim

"Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada.
O meu barco vazio na madrugada
Vou deixar-te no frio da tua fala.
Na vertigem da voz
Quando em fim se cala."



Há em mim um eterno romântico. Um eterno romântico que ainda vê velas acesas nos candeeiros da cidade. Que ouve atentamente o silêncio como se de uma palestra se tratasse e que caminha mais devagar quando chega à noite, sempre de mãos nos bolsos enquanto se luta contra a estranheza de não ter o que tocar com elas. Que olha o pôr e o nascer-do-sol como se fosse um primeiro beijo. E que sente a música como uma carícia.

Vergonhas têm-nas aqueles que se dão ao luxo de brincar ao Carnaval durante uma vida. Para todos os outros, há a leveza da definição de espírito e da nudez de subterfúgios e enganos. Onde vida não tarda e apresenta-se sem atrasos.

Há em mim um eterno romântico.

E em vocês, o que é que há?
o Homem do Meio.

sábado, 29 de outubro de 2011

This Time Around

"(...)When I meet you, in that moment, I’m no longer a part of your future. 
I start quickly becoming part of your past.
But in that instant, I get to share your present.
And you, you get to share mine. 
And that is the greatest present of all. 
So if you tell me I can do the impossible, I’ll probably laugh at you. 
I don’t know if I can change the world yet, because I don’t know that much about it – and I don’t know that much about reincarnation either, but if you make me laugh hard enough, sometimes I forget what century I’m in. 
This isn’t my first time here. 
This isn’t my last time here. 
These aren’t the last words I’ll share. 
But just in case, I’m trying my hardest to get it right this time around."

by Sarah Kay - Hiroshima


Sabem tão bem quanto eu que até pode ser num pacote de açúcar. Num cartaz publicitário. Numa conversa interceptada numa viagem de metro. Em qualquer lugar, em qualquer altura, vai haver alguém que nos consegue surpreender com aquelas ideias que de tão óbvias, conseguem dançar à nossa frente e falar por nós, sem que as vejamos.

Uma boa noite,
o Homem do Meio.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Promise

"Maybe, just maybe I'll come home."



"...deixe a sua mensagem após o sinal."

Olá, sou eu.
Está quase no fim. É óptimo, não é? Não te sei dizer o número de vezes que pensei no final. Não sabe a nada, sabes? É mais um ponto final daqueles que coleccionamos...
Isto pode cair como uma surpresa, mas telefonei para to dizer...

Não vou voltar para casa. Não por agora. Mas eu volto, prometo. E tu sabes que eu cumpro as minhas promessas.

Não por agora,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Back On His Feet

O silêncio podia-se respirar nas ruas daquela pequena vila. Os únicos carros na estrada eram os da polícia, com os sinais luminosos ligados, que procuravam aconselhar pessoas que ali andassem a voltarem para casa e esperarem. À porta das casas, os membros mais velhos de cada família mantinham-se preocupados, ansiosos e expectantes. Perto deles, tinham água, os kits de primeiros socorros, cordas, enfim, qualquer coisa que pudesse servir para ajudar. As suas crianças ficavam na escola até mais tarde, rotina que se repetia há alguns meses. Dentro das salas, faziam jogos, viam desenhos animados, qualquer coisa que os ocupasse. Os bombeiros e enfermeiros, sempre preparados para sair em caso de emergência. Tinham os carros equipados, atestados e de chave na ignição. Os telefones eram quase obrigados a ficarem mudos, condição que apenas seria alterada em circunstâncias muito específicas. 

Ao início da estrada via-se um rapaz de bicicleta, que pedalava com toda a força que tinha. À medida que o avistavam as famílias iam-se chegando à beira do passeio, curiosas. O rapaz trazia novidades, boas novidades, que gritava a plenos pulmões e pedia que passassem a palavra. A vila ganhou nova vida, com todos os telefones a tocarem em simultâneo, as famílias que se abraçavam, as crianças na escola que gritavam de alegria, os polícias e bombeiros que ficavam na rua a bater palmas. Era o regressar à normalidade, era o desvanecer das preocupações acumuladas. 

O rapaz da bicicleta gritava "Ele está de volta. Passem a palavra. Ele está bem. Ele está de volta." 

Para que durmam bem de noite, 
o Homem do Meio.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Quem era ele?

Não havia pior dia para sair à rua. Chovia como se o céu fosse cair e a luz estava claramente a perder a luta contra as nuvens. Num destes dias encontramos um velho, aparentemente sem abrigo, que se senta entre um prédio e um café. Local escolhido de propósito, talvez, para dizer que não tem nem tecto nem pão.
Com a boina a tapar parcialmente aquela cara envelhecida, esta mostrava-se baixa. Tinha os joelhos dobrados, e num deles apoiava-se um dos braços, cuja mão parecia fazer pela esmola. Raras eram as vezes em que levantava a cara, mas parecia mais atento ao que o rodeava do que qualquer um daqueles pares de pernas que passavam apressados.
O pedaço de cartão que repousava ao seu lado, mal cortado e mal escrito, dizia, em letras gordas: "gosto tanto disto como qualquer um". Não puxava a solidariedade daquelas faces sérias que o olhavam com desdém.
A estrada tinha sido cortada, já que parte do pavimento tinha colapsado graças ao dilúvio, que teimava em não descansar.
Do outro lado do alcatrão e com grande aparato, uma jovem escorrega numa tampa de esgoto e cai; acontecimento que puxa a atenção do velho, que olha intrigado, ora para o céu, ora para o seu velho relógio, ora para a rapariga, enquanto cofia a barba. Não longe dali, um jovem apressa-se para a ajudar, em contraste com o desprezo com que as restantes pessoas a brindavam. O velho sorriu, ainda intrigado. Ele ajuda-a a levantar-se, ela está bem, agradece, piada aqui, piada ali. O velho levanta-se. Retira a boina e atira-a para o chão. Sacode as calças e a restante roupa, ajeita o casaco. Caminha, debaixo da chuva intensa, até ao meio da estrada, já observado pelo jovem casal. Acena-lhes com um sorriso e de seguida olha para cima, enquanto ergue uma das mãos ao nível da face, aberta. Fecha-a, devagar, e olha para ela. A chuva parou. As nuvens fugiram. É um dia novo. E o velho nem vê-lo.

Quem era ele?

É o que toda a gente quer saber,
o Homem do Meio.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

I Seen A Man

"I seen a man.

I seen a man
With the crack of lightning in his feet.
I seen a man who feels the soul through his soles.
But his mind is not laced tightly.
His spirit is twisted, anchored to the will of his surroundings.
I seen a man, and he has a gift.

But beware.
His heart may be callous and his will heals at nothing.
I seen a man.
With allusionary razor blades cutting further into his attention span,
Unaware of the passing years he has yet to catch up to.
Now he marches in mediocrity with the capacity to be great.
Only his dreams separate him now.

Thoughts that fill the air until split ends confuses him of his insight.
I seen a man.
In a room where the fourth wall clouds his thoughts from his every day persistence.
Required words trying to find one another explore every part of his existence.

The existential experiential surrealistic unbound potential wakes him up at night,
Subconsciously aware of the thoughts that fill the air.
As death falls upon deaf ears,
The color of life turns.

Blind eyes become the seer of light beyond the sight of mortal fear.

I seen a man."

Como em http://thelxd.com/episodes/i-seen-a-man/,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Atmosphere

Estou mudo.
Não por não ter o que dizer, mas por não ter como o dizer. Estou mudo e repito frases porque aquilo que quero realmente dizer só se diz uma vez, e já a usei. Acabaram-se as metáforas, os paninhos quentes, acabou-se o subterfúgio. Aquilo que escrevo é tao cru quanto aquilo que sinto, e por ser meu e nao de outrem, custa-me mostrá-lo, ao mesmo tempo que me sufoca por mante-lo dentro. Dou por mim a retirar do lixo as melhores partes de mim e a achá-las estranhas.

Então, voltamos ao início para descobrir alguém que o diga por mim. Ouço as mesmas palavras há um par de anos, sempre com a sensação que diziam mais do que eu percebia, e afinal era uma questão de perspectiva. Era uma questão de as tornar num jogo de “fill in the blanks“.

E faz todo o sentido.
Porque morria se lá estivesses, e porque morria se não te visse. Porque morro quando olhas e não é para mim. Porque fui o centro e agora sou arredores. Porque odeio tudo isto, e não quero nada de volta, nem mesmo partes dessa vida que vejo de longe. Porque as saudades que tenho são de quem fui contigo. E quero ter-me de volta.

Portanto, não, não acho que vá voltar a Los Angeles.

o Homem do Meio.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Street Lights & Neon Signs

Por cada candeeiro de rua, faça-se uma testemunha. Por cada sinal luminoso, a consciência de onde estamos, não de onde viemos. As sombras para quem ambas se contrastem. Os sons para que acompanhem o ritmo que se faz nestes joelhos dobrados.
Esta noite celebra-se. Esta noite brinda-se à experiência, ao futuro, à amizade, ao amor próprio, à confiança, à calma, mas também à raiva, porque não? Esta noite relembra-se o que não pode ser esquecido sob a falta de segurança. Esta noite lembra-se a história que se contou.
Para vocês pode não ser nada. Percebam que para mim é tudo. Enquanto parecem meras palavras, para mim torna-se um hino. É o retorno da caneta a casa. Para o bem, ou para o mal.

Sob os candeeiros de rua e os sinais luminosos,
o Homem do Meio.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Leave

É mais que um cantor com uma guitarra.
Com uma força destas, até eu saía...



Take a hint,
o Homem do Meio.

terça-feira, 5 de julho de 2011

The Road So Far

Toda a gente tem dias maus, eu tenho andado a ter os meus.
E não há prazer maior do que encontrar conforto nas nossas próprias palavras.
Sentei-me a reler o blog de trás para a frente e encontrei uns quantos posts que me deixam de sorriso nos lábios. Foram alguns daqueles que eu pensei que iam rebentar, iam ser êxitos! E foram...para mim. Não há prazer maior que partilhar algo que nós criámos e do qual nos podemos orgulhar.

Como tenho andado cheio de vontade de apontar a caneta ao papel, mas com falta de ideias (ou com excesso delas), tomo a liberdade de ser um pouco egocêntrico e deixar aqui os links para os textos preferidos d'O Homem do Meio:

2. 35.;
4. Aeroportos (aquando da crise com o vulcão da Islândia);
6. (quase) História de amor (ainda me faz rir);

Até ao dia em que haja coisas novas,
o Homem do Meio.

sábado, 2 de julho de 2011

29 Ways to Stay Creative

Vamos lá ver se isto ajuda.



Até um dia,
o Homem do Meio.

domingo, 12 de junho de 2011

Fogo

Sentei-me em frente à fogueira, enquanto queimava momentos. Ardem por não os aguentar dentro de mim, no fogo que ateei por não os querer fora. Queria-os comigo, como quando ocorreram, mas que fizessem sentido. Que não tivessem o vil temperamento de me destruírem por dentro sempre que algo mos acorda. Queimo-os, um por um, antes que arda eu também.
Assisto enquanto ardem as saudades, e com ela a melancolia; incandescem as imagens e os sentimentos que as legendavam; rebentam em faíscas e fagulhas os pedaços de luxúria que se foram juntando; transformam-se em fumo as palavras que se disseram e não chegaram.

Deixei-me ficar, fechei os olhos e ouvi tudo isto a crepitar juntamente com a lenha, juntamente com o silêncio da noite.
Conheço aqueles passos. Fazem-me sorrir, e não pela primeira vez. Aquela mão no meu ombro aconchega. “Vens?”. Levo a minha à dela.

Sim, vou já,
o Homem do Meio.

sábado, 11 de junho de 2011

Equilibrium

Para cada acção, existe uma reacção.
Não esperes que o negativo não me irrite, nem que o positivo não me faça sorrir, e eu não tomarei como certo que olhares e sorrisos são em vão, mas talvez que têm o alcance e o significado que lhes quiseres dar.

Para cada libertação, existe uma absorção.
Dir-te-ei o que penso até que valha a pena, e se não fores tu quem absorve as minhas palavras, não faltarão ouvidos que o façam.

O barulho gera barulho. O silêncio provoca silêncio. Para cada dia existe uma noite. É o equilíbrio que nos rege e não o contrário. Um evento significativo não pode ser ignorado. Os telefones não funcionam nos dois sentidos por acaso. As cartas enviadas não tropeçam sozinhas em direcção ao lixo.

Atento ao equilíbrio é o estado natural das coisas. Os cinco foram acordados para que nenhuma acção morra sem assistir à sua reacção respectiva. Os sentidos foram aguçados para que o equilíbrio se mantenha, para que nenhuma noite se veja em branco a pensar o contrário.

Para qualquer acção,
o Homem do Meio.

domingo, 22 de maio de 2011

Lady Luck



Desejem-me sorte. Sorte para aquilo que vem.
Porque se até agora não falhou, não será agora.
Pensando bem, fiquem com ela.

Boa sorte para quem precise,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Teardrop



Música boa fica bem de qualquer maneira,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

The Ignorant Bliss Of Sun And Moon



É por estas coisas que eu adoro os "film festivals",
o Homem do Meio

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Skid marks



Aqui não há auto-estradas. Aqui não temos três faixas que seguem paralelas ao longo de traçados quase rectos. Aqui a direcção gira mais que um par de graus, e a caixa encontra mais que a sua relação mais alta. Olhamos para mais do que aquilo que está à frente. Sentimos mais que os sulcos no pavimento. Fazemos mais do que espectar a passagem dos quilómetros.

É certo que vamos passar os nossos dias num traçado montanhoso, com curvas e contra-curvas, de fraca visibilidade e de largura reduzida. Cada curva, cada recta é negociada com a velocidade, ângulo, traçado, cada vez mais rápido, cada vez mais confiante.

Chegamos a uma curva fechada, reduzimos a velocidade e preparamos para apontar a caixa para uma ou duas relações mais abaixo. O pavimento não era o que esperávamos, calculámos mal a velocidade, virámos de mais... damos por nós a perder o controlo. Damos por nós a subvirar, com velocidade a mais e atrito a menos, perigosamente perto do rail. O nosso coração dispara, preparado a levar a adrenalina a todo o lado. A nossa percepção do tempo perde-se e começamos a pensar, não no que pode acontecer, mas no que não queremos que aconteça. Soluções. Ideias.

Sim, perdemos o controlo. E nem sempre é por arriscar em excesso, mas por falta de risco em situações anteriores. Abusar dos limites que conhecemos é destruí-los, e fazer novos um pouco mais além. É conhecer melhor as próximas curvas, é conhecer a temperatura ideal dos travões, o rasto dos pneus, a potência do motor. A potência...

Largamos o travão, libertamos a direcção um pouco, e voltamos a ter algum controlo no sentido que tomamos. Esmagamos o acelerador em 2ª e sentimos a traseira a chicotear, arrastada pela frente. O tempo volta ao formato original, a nossa visão perde o foco, o coração bate para fora do peito. Damos pela respiração que não sabíamos estar ofegante. Seguimos caminho, mais devagar, mais desajeitados.

Vamos voltar a arriscar, claro. Vamos voltar a testar a veracidade dos nossos limites. Vamos chegar a perder o controlo para termos o prazer de o ganharmos de novo. Quando chegarmos ao final, vamos ter pena que tenha acabado...

...mas foi uma viagem do caraças,
o Homem do Meio.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Cura

Os sintomas são claros e mesmo antes de aparecerem já tens a suspeita da carga que trazem.
Começa pela agitação. As ideias que correm na tua mente, as linhas de pensamento, as frases que tomam forma.
Segue-se o aperto do estômago, quando tudo parece estar alinhado, princípio, meio, fim. Ganhas a percepção que algo se está a formar e até a sensação de estranheza face a esta inusitada definição de espírito.
Depois vem o medo que te fuja a concentração, o raciocínio. Por serem raros momentos como estes não te dás ao luxo de deixar que passe sem retirares proveito e assim se segue a urgência de o tornares permanente, de lhe dares fisicalidade. 

Sentas-te. Agarrado à caneta, ao papel, está na hora de libertares parte do veneno que te corre nas veias e te trouxe a este estado de graça. Chega a altura de deixares que esses fantasmas assombrem paragens onde a tinta se une com o papel. Quem sabe, onde as letras ganham brilho até.

Pelo menos até amanha,
o Homem do Meio.

sábado, 2 de abril de 2011

Conheces?

Sabes quem eu sou? Conheces a minha história? Sabes do que tenho saudades? Sabes como me sinto quando caminho para casa? Sabes a primeira coisa que faço quando me levanto e a última antes de me deitar? Conheces a música que ouço? Os livros que me rodeiam? Os filmes que me fazem companhia?

Sabes o quanto mudei? O que penso do passado? O que espero do futuro? Conheces os meus amigos? Talvez de nome?

Conheces os sítios onde vou? Aqueles que me preenchem?
Conheces as linhas da minha cara? As minhas cicatrizes?
Conheces os contornos da minha letra?

Tudo isto é supérfluo, mas a lista podia perfeitamente continuar. Há muitas mais perguntas a fazer. Falha-nos o propósito. A pergunta verdadeiramente importante é apenas uma, e diz tudo aquilo que preciso de saber:

Estás disposta a descobrir?

De Janeiro de 2010, acabado em Abril de 2011,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Closing Doors

Lembro-me do dia em que a porta de saída se abriu.

Lembro-me das luzes da cidade. Muito vagamente do que foi dito (talvez porque o silêncio não marca). Lembro-me de implorar ao meu pé direito que se comportasse.

Lembro-me das traduções incertas que nunca o deviam ter sido, levando ao "não" e ao "afasta-te", em vez de tudo o resto. Lembro-me das excepções que abri às minhas próprias regras. Lembro-me de lutar, finalmente, por alguma coisa. Lembro de fazer o que não fazia há anos.
Aquilo de que me devia lembrar, e que não consigo; aquilo que teria sido o marco de um final prolongado e passou despercebido; aquilo que me poupava a paciência; era o raio da porta a fechar.

Mas parece que nenhuma porta se fecha com estrondo suficiente,
o Homem do Meio.

sábado, 19 de março de 2011

Got my list

"Some days I feel affected
and then it all disapears
rain and clouds above my head
and then it all disapears

I'd understand it if i could grab it
another wish on my list
one more day we've made it through now
got my list, got my list
one more day we've made it through now
got my list, got my list, got my list

some days i feel protected
and then it all disappears
breath as two then think as one
one more day we've made it through now
got my list, got my list"
- Onelinedrawing - Got My List

É simples, é bom, e muitas vezes é os dois,
o Homem do Meio.

sábado, 12 de março de 2011

I don't mind

...anymore.



O que ele disse,
o Homem do Meio.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Move

"Move like you want,
Move like you need,
Move like you aught to,
Move just to please me."
- Ben Howard - Move like you want



Não há nada mais simples. É tudo uma questão daquilo que se quer. Não aquilo que se deve querer. Mais que responder aos pedidos que te fazem, responde àqueles que fazes a ti próprio.

E se achas que estou errado, faz como quiseres,
o Homem do Meio.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Acordar sossegado

Acordei sossegado. Silencioso. Calmo.
Não fiz planos. Não olhei para as horas. Não pensei no que tinha para fazer.
Pensei na verdade escondida nos elogios. E como eu me tornei bom a ignorá-la.
Pensei em ficar. Pensei em não ficar.
Pensei nos fins de tarde à beira-rio. No silêncio.
Pensei em conduzir. Calmamente.
Pensei na guitarra. Na intimidade que ainda não temos.
Foi um dia para celebrar um grande número de "nadas".
E pelos "nadas" fui fazer qualquer coisa, que envolve um pôr-do-sol, um par de ténis e um bocadinho de suor.

Trata-te bem, mesmo quando achas que não vale a pena,
o Homem do Meio.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Deixa que magoe

"Come out angels, Come out ghosts, Come out darkness,
Bring everyone you know.
I'm not running and I'm not scared. I am waiting and well prepared..."
- John Mayer - War of My Life


Andas debaixo das nuvens negras, à espera que a chuva te cubra. Repousas no meio da poeira que assentou à tua volta, à espera do turbilhão que a levante.

Queres tudo enquanto tudo perdes. Queres ir a todo lado estando preso. Queres que doa enquanto te curas. Queres lutar quando a guerra está perdida. Queres seguir em frente quando tudo aponta para trás. Deixas que o momento se perca no infinito. Pisas no passado para subires ao futuro. Tentas colocar o controlo no fio da navalha.

Esta é a altura para lutar por tudo, ou desistir. Esta é a altura em que se consegue alguma coisa para abrir mão dela, e repetir. Deixas que magoe só pela experiência, porque sabes que do outro lado vais sair como novo, pronto para fazer tudo da mesma forma.

E por isso, quando a chuva começa a cair, deixas que te cubra, não foges e deixas que ela te atinja, e aguentas. Quando o vento levanta a poeira à tua volta, mantens-te imóvel à espera que passe. Deixas que ela volte a tocar no chão para que chegue a tua vez de fazeres estragos.

Para enfrentar tudo,
o Homem do Meio

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Milkshakes

"Daydream delusion, limousine eyelash
Oh baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass
Look at those big eyes
See what you mean to me
Sweet-cakes and milkshakes
I'm a delusion angel
I'm a fantasy parade
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from
We have no idea where we're going
Lodged in life
Like branches in a river
Flowing downstream
Caught in the current
I carry you
You'll carry me
That's how it could be
Don't you know me?
Don't you know me by now?"
- Do filme "Before Sunrise", de 1994

Ainda não me conheces,
o Homem do Meio

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Addicted.

"The condition of being habitually or compulsively occupied with or or involved in something."



Se sinto a falta de alguma coisa do antigamente, é disto,
o Homem do Meio.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Escolhas

Vale a pena.
Todas as incertezas fazem valer a pena lutar por uma certeza que seja. 
Todas as vezes que se segue a vontade de outrem, que se defenda a vontade própria.
Todas as noites que nos enroscámos na mágoa, que nos confortem para o fazermos uma última vez.

Por tudo o que já teve um fim, abraça mais um,
o Homem do Meio

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011 - Capítulo 1

Se há coisa que eu sei como verdadeira, é que o mundo não desaparece quando se muda de ano.
Não há cá "ano novo, vida nova" que se aguente além do primeiro mês.
Começa-se devagar, tendo como a perfeita metáfora a matemática do réveillon. Agarramos em 2010, contamos de 5 para baixo, com as passas numa mão, o espumante na outra, os amigos à vista...e simplesmente, somamos 1. Não somamos 1000, nem começamos do zero. Somamos 1.

Não tenham pressa de agarrar o mundo todo de uma só vez.
Não tentem ignorar 2010 porque isso só o fará mais vivo.
E se agarrarmos naquilo que temos até agora, e adicionarmos qualquer coisa? Qualquer coisa que faça falta e mude os nossos dias?

A quem por aqui passar desejo um "+1" realmente essencial,
o Homem do Meio.