sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

The Slowest Man On Earth

Uma coisa que em geral não faço é correr para apanhar transportes. Portanto não sei o que me deu para o fazer. O que sei é que se não tenho cuidado com o chão molhado ainda fazia uma entrada de pés juntos à rapariga que esperava para entrar na carruagem. Um pequeno slide, de uns ténis que eu não sabia que escorregavam. Malandros. Eu assusto-a, e logo de seguida peço desculpa ao mesmo tempo que me começo a rir. E a corar. Ela rapidamente me liberta de qualquer culpa e entramos na carruagem. Ela senta-se e eu, por falta de lugar, fico de pé junto à entrada. Aparenta ter a minha idade, é morena, cabelo liso, comprido. Aquele vestido ficava-lhe muito bem, para não falar daqueles botins de cano alto e as meias até ao joelho. Sim, é verdade, fiquei a olhar. Ela era gira, que posso dizer?
A carruagem começa a esvaziar, e três estações a seguir fica um lugar vago à frente dela. Adivinhem quem aproveitou? Se disseram a senhora que estava de pé mesmo ao lado, acertaram. Poker face. Mas na estação a seguir vem uma boa oportunidade. Na mesma à frente dela, mas desta vez ao pé da janela, vagou um lugar. Eu aproveito, “com licença, obrigado”, sento-me e volto a levar os auriculares aos ouvidos. Ela ainda se ri. Olho para ela, começo-me a rir também, abano a cabeça.
A parte que se segue está alinhada com duas manias que tenho: Número 1, sempre que ando de metro e me sento junto à janela, uso o reflexo dela nos túneis para olhar indirectamente para as pessoas à minha volta. Mas acho que não serei o único; Número 2, com o cabelo grande (maiorzinho, vá), ganhei o hábito de lhe mexer quando não tenho mais nada que fazer. Meto os dedos junto à testa e prossigo até que a palma esteja no topo da cabeça. Várias vezes. Fiz esta última e quando olho para o reflexo, ela está a olhar para mim. Pelo canto do olho, enquanto segura nos apontamentos, sorrisinho na cara. Eu não sou a pessoa mais confiante do mundo, portanto tudo isto estava-me a dar um gozo imenso. Claro. Viro-me calmamente, olho para a frente, olho para ela (que ainda olhava para mim), e pela velocidade com que colocou os olhos de volta aos apontamentos, não estava à espera de ser apanhada. Eu rio. Ela também.
Chega a paragem dela, antes da minha. Levanta-se, pega na mala, guarda os apontamentos, dá por mim a olhar para ela. Levanta-se, olha para trás. O metro pára. Olha para trás. Enquanto sai, olha para trás. Foi ela a pisar o chão da estação e eu a ouvir a ficha a cair. Depois de passar a porta, olha para mim pelo vidro. Eu nunca desviei os olhos. Estranho em mim, garanto. E se me tenho levantado um segundo antes (não depois) do aviso de fecho de portas, aposto que ainda a apanhava.

De qualquer forma, se não deu para mais, deu para me aumentares o ego. E obrigado.

Vejo-te...nunca?
o Homem do Meio.

1 comentário:

Grace disse...

Tão deliciosamente delicado.