Não me tinha esquecido da história. Só não sabia o que dizer. Do vosso lado direito encontram o link para as outras 3 partes.
Como não gosto de assuntos por acabar...
Como não gosto de assuntos por acabar...
"...depois da discussão, ela saiu. E foi logo ter com ele. Se não fosse o acidente e aquilo que as malas levavam dentro do carro, ninguém sabia que eles estavam juntos. Nem eu" - Contava a nossa personagem, naquele alpendre, sentado no chão de pedra fria. Ela, sentada na cadeira de baloiço, encolhida, com a chávena de café na mão, ouvia. Finalmente tinha-o posto a falar, aquilo que eu, o seu narrador, mais queria.
Antes do espectáculo já ela tinha reparado no seu vizinho. E a sua adorável sensibilidade já se tinha apercebido da cara de fardo que ele usava todos os dias. Depois do bar, e contra aquilo que eu esperava, ele aguardou pacientemente à porta dela, que ela chegasse, para lhe pedir desculpa. Ainda falaram, um pouco, e combinaram encontrar-se. E sucederam-se as sessões no alpendre. Em conversa ou em música. Alguns meses depois já quem ele tinha deixado para trás sabia de tudo, graças à voz da razão que ela conseguia ser.
Ela também tinha o seu próprio passado. Que ele conseguia fazer desaparecer. Antes fosse o contrário. Teria algo que a distraísse daquele sentimento que a ligava a ele, embora soubesse que ainda havia alguém a ocupar aquele espaço. Ela sofria. Ele sentia-o, mas nunca percebeu. Até ela não o suportar mais. Acompanhada da guitarra, cantou para ele, com lágrimas a escorrerem pela cara, em paralelo com a chuva que se fazia ouvir. Como quem confessa tudo. No final, um beijo, antes de pedir desculpa - "Não consigo fazer isto..." - e entrar em casa. Sem palavras, a única coisa que ele conseguiu fazer foi andar. Mais uma vez eu desejava não ser só o narrador. Fazê-lo voltar para trás. Mas ele não saiu da chuva, continuou a andar enquanto pensava no quão cego tinha sido. Havia meses que não pensava no que tinha acontecido. Havia meses que ansiava pelas sessões do alpendre. Queria saber mais sobre ela. Desde que se sentou naquele banco no bar que queria saber mais sobre ela. Mas para ele era difícil perceber aquilo que sentia, como sempre foi. E voltou para trás, a correr, como contei no início.
Bateu à porta. Ela abriu, alguns minutos depois, ainda com lágrimas nos olhos. Ele, encharcado, magoado. Mas sorriu, e aquilo que disse a seguir fez com que ela também o fizesse...
- "Please, keep me where the light is..."
Espero que tenham gostado,
o Homem do Meio.