As nossas vidas podem ser comparadas a um livro sem qualquer tipo de pontuação. Como a mim me custa a acreditar que o livro esteja escrito, vou escrevendo ao mesmo tempo que pontuo. Mas como em tudo, nem sempre seguimos o caminho que devíamos. Ou o caminho que devemos seguir não é o mais proveitoso para nós.
E portanto somos que nem Saramagos quando colocamos os nossos pontos e vírgulas meio por acaso, meio por necessidade. Quantas vezes nos metem à frente um ponto final? Quantas vezes andamos com pontos de interrogação às costas? Eu passo o meu tempo a colocar as vírgulas onde tenho reticências, pontos de exclamação onde existiam interrogações. E, quem sabe, muito a custo, meto alguns pontos finais quando o que eu mais desejava era que por lá ficassem as reticências, que nada acabasse com a frieza do assassínio cometido pela delimitação de uma frase. Detesto finais. Detesto despedidas.
Este fim-de-semana fiz uma loucura, e posso dizer que saltei algumas das minhas páginas em branco para escrever um parágrafo. Porque é isso que todos nós fazemos. Procuramos sobreviver no dia-a-dia para conseguirmos mudar de parágrafo, mudar de vida. Mudar. E talvez consigamos escrever outro. E mais outro.
O meu livro anseia por uma mudança. Por uma mudança de parágrafo. Quem sabe por uma mudança de capítulo. Por agora fico pelas páginas frias do início, onde a personagem principal procura o seu lugar. Procuro escrever para chegar ao parágrafo que escrevi nos últimos dias, e assim obter a linearidade de um romance.
Não temo em deixar nada para trás. Temo sim não ter estrada por onde caminhar. É bom voltar a ter um destino. Se o caminho será difícil ou não, a pontuação o dirá.
Eu sou o Homem Do Meio. A caneta está deste lado. Até um dia.
2 comentários:
Saramago não coloca vírgulas onde calha, mas sim ontem têm que ser colocadas.
Sexy, não mudes de paragrafo,ou página para sobreviver,muda para viveres, porque sobreviver é o que quem não sabe viver, o que fazer, faz!
Vive, não sobrevivas!
*onde têm que ser colocadas.
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