terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Espectador

Foi isso que fui.
O jogador no banco. Sentado numa cadeira de um cinema muito pessoal. O repórter de guerra. O voyeur.
A conclusão saudável é apenas uma: usei este espaço para “gritar”. O espectador revoltou-se e agarrou numa caneta. Ou num teclado, como acharem mais exacto. Posso dizer que aqui me senti (sinto) em casa. Confortável, livre. Com paredes pintadas a chuva ao pôr-do-sol de um dia solarengo. Como eu adoro.
Mas entretanto esqueci-me (ou pensando bem nunca me apercebi) daquilo que me faltava. O frio do entardecer. O molhado das gotas. O calor de um diálogo em detrimento de palavras solidárias e solitárias.

Peço desculpa se vai demorar mais uma semana para aparecer outro texto. Ou pensando bem, retiro o que disse.

Vou estar a viver aquilo que podia estar a escrever (e não peço desculpa por isso),
o Homem do Meio.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Keep your head up, keep your heart strong

"I saw a friend of mine the other day,
and he told me that my eyes were gleamin'.
Oh I said I had been away, and he knew,
oh he knew the depths I was meanin'.
And it felt so good to see his face,
or the comfort invested in my soul.
Oh to feel the warmth of a smile,
when he said "I'm happy to have you home."
Ooh I'm happy to have ya home."
- Ben Howard - Keep Your Head Up




Amo o acaso com que descubro estes pequenos prazeres auditivos,
o Homem do Meio.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

The watch

"...I give you the mausoleum of all hope and desire...I give it to you not that you may remember time, but that you might forget it now and then for a moment and not spend all of your breath trying to conquer it. Because no battle is ever won. They are not even fought. The field only reveals to man his own folly and despair, and victory is an illusion of philosophers and fools." 
- William Faulkner - The Sound and The Fury

É feio. Nojento. Sangrento. Mas interessante. Que outra série nos poderia presentear com uma citação destas, que não "The Walking Dead".

o Homem do Meio.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

I have a dream.

Onde vou poder um dia entrar pelos escritórios da TVI, a distribuir sandes de mão a toda a gente, começando pelo segurança e terminando na menina da contabilidade.

Mandar valentes tabefes a todos os funcionários daquela...coisa. Subir, andar após andar, semeando o terror por cada gabinete, de mão aberta, ao sabor do vento.

E vai doer. E ficarei com a mão vermelha mas não desistirei. Não, não desistirei. Trata-se de dar lambadas (quer com a frente, quer com as costas da mão) por uma programação televisiva melhor, para esta e a próxima geração.

E espalharei a minha marca pelo edifício, mas não chegará. Não. Será preciso passar agora aos estúdios. E entrar porta dentro, interrompendo as filmagens, mas rapidamente, para que em casa ainda se veja. Desde o camera-man, à miudagem dos Morangos, tudo terá um Natal antecipado, e este ano o Pai Natal traz bofetadas. Mas não umas quaisquer. Estas trazem extra-balanço. E no impacto provocam ondas de choque que se sentirão no dedo mindinho do pé direito. 

E quando todos estiverem agarrados às bochechas incandescentes, passarei à casa do novo reality show, e mudar-lhe-ei o nome. Chamar-se-á "Casa da Berlaitada", e quando por lá acabar, será um programa educativo, para as crianças, que incita ao respeito e boas maneiras.

Mas há algo por resolver. Uma quezília antiga. Telefonarei à Manuela Moura Guedes. E direi que ela tem o emprego de volta. E marcarei uma entrevista. E quando ela chegar estarei preparado. Com tanto chapadão já terei a mão inchada, no tamanho ideal para colocar aquelas beiças de banda. A porta abrir-se-á...

"Olá, o seu nome a partir de agora será Nélinha Boca Torta, e esta é a Direita" (BOFETÃO),
o Homem do Meio.

P.S. - Este post é da responsabilidade dos 5 minutos de Morangos com Açúcar que vi.

domingo, 14 de novembro de 2010

Destined.

headed or intending to head in a certain direction; governed by fate.

Temos uma história. Eu e tu. Em que tu não existias e eu sonhava com a tua sombra no lugar da minha. Onde me fazias falta, e agora nem sequer dou por ti. Quando as saudades de ti, que não conhecia, me asfixiavam a vontade, o andar, o intelecto.


Agora que aqui estás é difícil, acredita, tratar-te como íntimo se durante tanto tempo te vi como um estranho. Custa-me acomodar à ideia de aqui estares, quando já tinha adoptado o adjectivo "impossível" como melhor amigo.

Mas se calhar escolho abraçar-te. Perguntar "por que é que demoraste tanto?". Deixar de falar de ti...de mim na terceira pessoa. Perder tempo para me conhecer. Aceitar-me como o estranho de quem falam tão bem.

Aceitar-me como o estranho de quem falam tão bem.

Soa estranho,
o Homem do Meio.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tentativa

Eu tentei.
Conduzir até ver a luz da reserva...por duas vezes.
Correr até a tosse me tirar o ar.
Descarregar o resto no ginásio, até ao limite da lesão.
Dormir até não precisar de café.
Escrever até rebentar uma caneta.
...

Detesto o silêncio. Mas respeito-o.
E por mais que tente, há imagens que não param de dar, em loop, na minha mente.
Que me fazem querer repetir as anteriores.

Mas não posso,
o Homem do Meio.

domingo, 31 de outubro de 2010

Um suposto diálogo...

"Precisas de crescer!"
 Preciso? Então e porquê? Sou irresponsável? Defino mal as minhas prioridades? Tenho falta de consideração pelos outros? Não consigo manter uma conversa decente? Porquê?

"Precisas de crescer!"
 E argumentos? Parece que dizes isso só porque sim. Pá! Tu é que precisas de crescer! Ganhar vocabulário! Saber argumentar! Não é só vir para aqui di...

"Precisas de crescer!"
 Eu estava a falar. Importas-te de não me int...

"Precisas de crescer!"
(Suspiro)...se calhar até tens razão. Já não tenho idade para discutir com um peluche.

Chama-se Middles e é um pónei um bocado irritante, como devem ter reparado,
o Homem do Meio.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Suit Effect

Quando se aperta o fecho do casaco e a sensação é a de dar um nó na gravata carmim que descansa por cima da camisa branca.

Quando qualquer t-shirt se ajusta como se fosse feita por medida.

Quando se espera tanto para ter orgulho de algo, e mesmo assim a maldita modéstia teima em vir ao de cima.

Quando os olhos de outrem parecem transformar até um simples par de calças de ganga e uma camisola de alças num fato de cerimónia.

Nunca pela maneira como és visto, mas pela maneira como te sentes,
o Homem do Meio.

domingo, 24 de outubro de 2010

O Começo.

"I never knew that everything was falling through"
- The Fray - Over My Head

Esta eu reivindico como minha.
Descreve-me. Já me acompanhou sabe-se lá por onde. Não deixa o meu mp3 nem que eu queira, porque volta e meia vai lá parar outra vez. E...o resto não consigo explicar. É perfeita a tantos níveis que me ultrapassa. Perfeita, para mim.




Esta define-me. E a ti, qual é a tua música?
o Homem do Meio.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dissertação sobre cenas

Cenas. (Suspiro em admiração) Mas que palavra, caros leitores! Mas que palavra! Chique, e ao mesmo tempo "desportiva". Ali com um leve travo a calão e um aroma a falta de palavreado. Estou abismado com tal "play maker" da língua portuguesa. Serve para tudo, inclusive:

Pedir: "Passa-me aí essa cena, se fazes o obséquio."
Exigir: "Faz-me essa cena, já!"
Inquirir: "Que cena é essa?"
Exprimir irritação: "Estou farto das tuas cenas!!"
Exprimir irritação com um pedido: "Deixa-te de cenas, pá! "
Usar de um discurso perfeitamente coerente para dar indicações que só fazem sentido a quem o tem mas que não faz sentido nenhum para todos os outros: "Epa, segues nesta cena até teres uma cena redonda. Aí viras para o lado que tem a cena da luz e continuas até veres uma cena imensamente artística. Aí continuas para o lado que a tua cena achar melhor, e a cena que procuras deve andar debaixo de uma das cenas com casas que há por aí."

(A plateia levanta-se, em ovação, enquanto desce um cartaz onde se lê "Cenas!". É o momento alto da noite.)

Eu prometo! Que um dia destes sai uma cena de jeito,
o Homem do Meio.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Apatia

Nunca me aventurei por estas andanças, mas estava tão aborrecido que saiu.
(Boneco com a língua de fora). 

Mexe-me a caneta
Obrigação bem-dita
Já que a apatia não deixa
Traduzir-me pela escrita

Move-me o corpo
Força de vontade
Já que a apatia não deixa
Mostrar vida, nem metade

Solta-me as palavras
Intelecto combatente
Já que a apatia não deixa
Que fale um pobre eloquente

Não é falta de motivação
Nem querer, verdade seja dita
Foi o pensamento de sargeta
Que deixou entrar a apatia maldita. 

Tenho uma boa imaginação para fazer pastéis de nata, não é?
o Homem do Meio

sábado, 25 de setembro de 2010

Como dizer Adeus

Devo ser o maior cliché com pernas deste século. Isso porque, tal como escrito e reescrito em várias narrativas, "não tenho jeito para despedidas". O que dizer? O que raio digo eu para deixar a entidade da qual me despeço com a sensação de que vai fazer falta?

Se calhar começo por relembrar os momentos que passámos juntos. Os quilómetros percorridos. Os saltos partilhados. O voo que nos devolveu o orgulho. Através de terra batida, asfalto, rocha, cimento e, às vezes, até água. Nunca me deixaram mal. Nunca me magoaram. Deram-me força, impulso, coragem, e nunca me fizeram escorregar.

Para aqueles que agora estão confusos, estou a falar de um par de ténis.
o Homem do Meio.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Push & Pull

Quer queiramos, quer não, já todos o fizemos. Trata-se de puxar para nós aqueles de quem gostamos, uns mais perto que outros; e empurrar para longe todas as ameaças. Não por capricho, mas por puro e simples amor próprio, transformado em direito absoluto.

As regras dizem que o direito se estende a todos os intervenientes, e por isso o puxar ganha uma nova complexidade. Agora (e como sempre) trata-se de puxar e esperar que do outro lado o façam também. Esperar que não nos queiram afastar. Que seja mútuo.

Eu fiz por puxar. E reconheço que inconscientemente também empurrei muito. Poucas foram as vezes que deixei que me puxassem a mim. Não por vontade própria. Mas por força da insegurança. Receios.

O prazer está em ser-se dinâmico. Incauto. Inconsciente e irresponsável. Puxar, empurrar, deixar que nos puxem, não ter medo de ser empurrado.

No fim, eu puxei, e tu puxaste também.
o Homem do Meio.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Homem do Meio, 2º Capítulo

Este post não serve para nada mais do que marcar. Para alguém que leia este blog do princípio perceba que aquilo que até aqui se escreveu é, ao mesmo tempo, dependente e independente daquilo que a partir de agora se irá escrever. Aqui se assinala uma mudança, não por ter acontecido agora, mas por ser notória. Porque as mudanças não acontecem. Vão acontecendo. E esta, por ser tão abrangente, tem repercussões a todos os níveis.

E por isso permitam-me redefinir o Homem do Meio. Se antes era "do Meio" por ser medíocre, sem extremismos, agora quero que seja algo diferente. Porque já não se trata de estar do lado de fora a olhar para o interior, agora é "do Meio", por estar no meio da acção, da festa, da vida. Por ser a regra, e não a excepção.

É agora que o escrever deixa de ser um queixume, uma bola anti-stress, para ser um prazer partilhar com alguém as minhas ideias, mais ou menos decoradas na escrita.

Hoje e até um dia, renovado,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Keep Me Where The Light Is - Final

Não me tinha esquecido da história. Só não sabia o que dizer. Do vosso lado direito encontram o link para as outras 3 partes.
Como não gosto de assuntos por acabar...

"...depois da discussão, ela saiu. E foi logo ter com ele. Se não fosse o acidente e aquilo que as malas levavam dentro do carro, ninguém sabia que eles estavam juntos. Nem eu" - Contava a nossa personagem, naquele alpendre, sentado no chão de pedra fria. Ela, sentada na cadeira de baloiço, encolhida, com a chávena de café na mão, ouvia. Finalmente tinha-o posto a falar, aquilo que eu, o seu narrador, mais queria.

Antes do espectáculo já ela tinha reparado no seu vizinho. E a sua adorável sensibilidade já se tinha apercebido da cara de fardo que ele usava todos os dias. Depois do bar, e contra aquilo que eu esperava, ele aguardou pacientemente à porta dela, que ela chegasse, para lhe pedir desculpa. Ainda falaram, um pouco, e combinaram encontrar-se. E sucederam-se as sessões no alpendre. Em conversa ou em música. Alguns meses depois já quem ele tinha deixado para trás sabia de tudo, graças à voz da razão que ela conseguia ser.

Ela também tinha o seu próprio passado. Que ele conseguia fazer desaparecer. Antes fosse o contrário. Teria algo que a distraísse daquele sentimento que a ligava a ele, embora soubesse que ainda havia alguém a ocupar aquele espaço. Ela sofria. Ele sentia-o, mas nunca percebeu. Até ela não o suportar mais. Acompanhada da guitarra, cantou para ele, com lágrimas a escorrerem pela cara, em paralelo com a chuva que se fazia ouvir. Como quem confessa tudo. No final, um beijo, antes de pedir desculpa - "Não consigo fazer isto..." - e entrar em casa. Sem palavras, a única coisa que ele conseguiu fazer foi andar. Mais uma vez eu desejava não ser só o narrador. Fazê-lo voltar para trás. Mas ele não saiu da chuva, continuou a andar enquanto pensava no quão cego tinha sido. Havia meses que não pensava no que tinha acontecido. Havia meses que ansiava pelas sessões do alpendre. Queria saber mais sobre ela. Desde que se sentou naquele banco no bar que queria saber mais sobre ela. Mas para ele era difícil perceber aquilo que sentia, como sempre foi. E voltou para trás, a correr, como contei no início.

Bateu à porta. Ela abriu, alguns minutos depois, ainda com lágrimas nos olhos. Ele, encharcado, magoado. Mas sorriu, e aquilo que disse a seguir fez com que ela também o fizesse...

- "Please, keep me where the light is..."

Espero que tenham gostado,
o Homem do Meio.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Rebelled.

To resist or defy an authority or a generally accepted convention.

É apenas justo que se queira uma nova história. Que se queiram apagar os silêncios, aceitar tudo o que ficou por dizer, perceber a distância. Perguntar amavelmente pela relevância das nossas personagens na narrativa. Delinear a verdade que queremos que o seja, em paralelo com aquilo que o nosso âmago grita. 

Parece fácil. Até chegar a óbvia oposição. É do interior que vem. O que achamos ridiculamente inalterável. A sensação de impotência e a confiança com a apatia. A mera percepção faz-nos querer partir aquilo que nos rodeia. Faz-nos querer lutar. Sujar as mãos em nós. Mas faz-nos mudar. A melhor parte.

Quando o pó assenta, a distância é ínfima, de repente. Aquilo que ficou por dizer não nos fere, porque agora tudo se diz e sobre tudo se fala. E quanto ao silêncio...bem...acho que tens uma história para contar, não?

Viva la revolución,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Diálogos com o próprio

Porque é que escrevo? Começou por ser uma forma facílima, e muito mais elegante de gritar. E, tal como o gritar, também na escrita se alivia turbilhões emocionais. Depois disso, talvez por ser a forma mais simples de criar, acessível a qualquer um. Até a mim, cuja auto-estima esquelética me impede de achar bom o que quer que faça. Mas porque é que me faz tanta falta? Eu ressaco da falta de escrita. Tal como ressaco de saudades de algumas pessoas, da falta de intimidade ou da falta de queijadas de Sintra. Sabe bem meter a caneta ao papel. E dói a falta de inspiração. O que será amanhã o almoço? Mas tu 'tás a falar a sério? (cof, cof)

Para que se saiba,
o Homem do Meio

sábado, 24 de julho de 2010

Egocentric?

"I've been waiting for too long, staring at the sun, waiting for the night to come so I can get things done..."
- Eskimo Joe - Setting Sun

O cúmulo do egocentrismo são 3 coisas: posição, acção e sentimento. É o sentares-te à espera, olhares para o que desejas e encheres-te de ódio por não seres capaz de o segurar nos teus braços. É achares que tudo converge para ti a certa altura da vida. Belo slogan, "de cu sentado na cadeira, à espera de respostas, desde 19--".

Nunca vai acontecer. Vais queimando os olhos ao olhar para o futuro que nunca virá enquanto a apatia se apodera de ti; e, quando te cansares...

Toca a estrebuchar,
o Homem do Meio.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

See It All, see it in Lisbon...

Quanto a vocês não sei, mas eu, para me acalmar e concentrar, nesta época de exames/trabalhos que parece não ter fim, procuro coisas mais calmas para ouvir. E embora este artista já me sirva de droga há alguns anos, o que realmente me chamou a atenção foi o belíssimo vídeo, com a nossa querida Lisboa em pano de fundo.

Na falta de conhecer mais, contento-me com esta "minha" cidade mais linda do mundo.
(Ok, ok, não é só a cidade que é linda...)


Boa noite Lisboa,
o Homem do Meio

domingo, 27 de junho de 2010

35.

Conhece-me. Ri-te de mim. Fala comigo. Ri-te comigo. Aproxima-te. Reencontra-me por acaso. Deixa que te reencontre de propósito. Pensa em mim, enquanto eu penso no que "nunca vai acontecer". Abraça-me. Conhece-me melhor. Gosta do que conheces. Por favor, gosta daquilo que conheces. Faz-me merecer-te. Faz-me sofrer. Sorri quando me disseres que o fazes de propósito. E deixa que te beije. Deixa que te conheça. Muda-me. Deixa que tente melhorar a tua vida. Sê a parte boa de tudo o que faço. Mostra-me aquilo de que gostas. Mostra-me sítios que te completam. Deixa que te mostre por onde sonha a minha mente. Habituar-me-ei. Chama-me para que te arrepie. Faz o meu ego crescer só de olhares para mim. Luta comigo. Preocupa-te. Lê nas entrelinhas. Deixa que te ame. Farta-te. Esconde. Afasta-te. Acaba comigo.

Ou deixa que fique preso cinco passos atrás.

o Homem do Meio.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Super-...ups...

Mostrava-se cansado. A sua roupa já não é o que era. O ânimo...nem vê-lo. O excesso de trabalho oferece-lhe nada mais que uma ida mais rápida até ao fim da vida. Entre sirenes ensurdecedoras e holofotes apontados ao céu, torna-se complicado para ele (e por ele quero dizer eu, note-se) manter uma postura saudável. Chamem-me inconstante, mas eu próprio tenho uma pequena multidão de "eus" a lutarem por uma pequena janela de protagonismo, e preciso que alguém lhes ponha ordem. É um trabalho que precisa de concentração. Não foi difícil terminar esta relação, pelo alívio dele e pelo meu. Não por falta de altruísmo, mas agora por um excedente de amor próprio, matei o super-herói que havia em mim.

Instruções para super-vilões no verso,
o Homem do Meio.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Resolute.

Marked by firm determination.

Chove? Faz sol? Está frio? Muito calor? Qual delas a mais perfeita das desculpas. Mas não vamos usar disso, ou vamos?
Ignora o tempo, o dia, o ano.
Ignora a preguiça, a gula, a luxúria e os outros quatro.
Ignora aquilo que te liga ao mundo, já que não vais estar parado o suficiente para te ligares ao chão, sequer.
Usa aquilo que te faça confortável, e não te preocupes com olhares alheios. Alguns saltos para deixar que a roupa se ajuste é tudo aquilo que precisas para ires bem.
E sorri. Goza com os obstáculos. Fá-los perder a força aos teus olhos.
Sabe o teu limite. E se achares que o atingiste, é porque ainda aguentas.
E respira. Mantém a calma. Que não sejas o teu próprio veneno.
Defende o teu caminho. Decide cada passo. Ataca cada metro.
E quando estás a chegar, não importa se estás cansado, dorido, farto; acelera. Dá tudo para o final. Supera-te.

Este sou eu a correr. Porque isso ainda me lembro como se faz.

Fui correr, volto já,
o Homem do Meio.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

E segue sempre...

...por bom caminho.
Só é pena ter andado enganado na frase.
Que se lixe. O sentimento ainda é o mesmo. O homem é que já não.

Até um dia (próximo, esperemos),
o Homem do Meio.

domingo, 23 de maio de 2010

Bilhete de Ida para o Futuro

É aquele fraco que temos pela miúda gira da escola. São as horas a passar quando nos divertimos. É aquela reportagem que estávamos a ver na TV quando deixámos queimar as torradas. Isto tudo para dizer que ao mesmo tempo que ignoramos o nosso presente, temos uma relação íntima com o nosso futuro. Porque se pensarmos bem, o presente é uma visita ao médico. Ora agora estamos lá, ora agora já não estamos. É aquela familiar com quem falamos 5 minutos por ano. Passamos tão pouco tempo com ele, para quê a preocupação?
Mas o futuro, esse merece importância. Porque é por ele que esperamos toda a vida. Sonhamos com ele. Ansiamos por ele. Receamo-lo. Mas essencialmente aquilo que mais fazemos é o seu planeamento. Qual arquitecto, desenhamos o cenário perfeito do futuro perfeito, após (obviamente), um percurso perfeito, sem obstáculos. Onde fomos os nossos próprios super heróis, capazes de tudo, com objectivos a cumprir, cegos de sucesso.

E seria aqui o fim deste post, o presente daria lugar ao passado, vocês ficavam de sobrancelha erguida a pensar naquilo que me poderia estar a passar pela cabeça quando escrevi isto, não houvesse uma coisa gira à qual todos nós chamamos: “vida”!
Sim, porque a “vida” acontece. E porque a “vida” acontece, por vezes acontece merda. Mas mesmo que não aconteça, o nosso plano de futuro esquece um sem número de variáveis que nos lixa. E no fim, na maioria das vezes, fazemos planos para não os usarmos. Fazemos planos para chegarmos à altura de os pôr em prática e dizer “que se foda o plano, vou à Rambo”. E sinceramente, parece-me ser esta a abordagem que dá cor ao presente. Ainda que o ignoremos. Só é pena pelos Vietnamitas que me estão a sujar o tapete da sala…

E eu tinha planeado escrever sobre outra coisa, tinha...
o Homem do Meio.

domingo, 9 de maio de 2010

Aeroportos

Hoje, não sei bem porquê, tenho uma vontade imensa de falar de aeroportos e aviões.
O único problema é que não tem havido muito movimento. Diz que se cancelaram uns voos, por causa de um caramelo qualquer que foi apanhado a fumar na Islândia. Ou qualquer coisa parecida. Hum...e agora?

À margem do tão falado Estoril Open, e também devido à falta de movimento aeronáutico no nosso país, foi criado o Campeonato de Ping-Pong do Aeroporto da Portela (ou CePPAPo), apenas aberto a arrumadores (como o da foto em cima), e coberto em exclusivo pelo Homem do Meio.
Foi um campeonato renhido, com a vitória do português Alberto "Hélice" Matias, cujos serviços mortíferos à lá "vai para a esquerda e arruma aí" serviram para derrubar qualquer um. A grande surpresa do dia foi para a desclassificação do experiente José "L'Aterrage" Dionísio, que perdeu na primeira ronda após grande demora na cobrança da moedinha a um piloto após assistência na arrumação a um Boeing 747.

Caso as condições para o aerotransporte se mantenham, podemos ainda assistir ao Grande Prémio da Pista 15 em camiões de transporte de bagagens, a partir das 19 horas.

O vosso correspondente no desporto de ocasião,
o Homem do Meio.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Comunicado

Hoje a conversa é séria.
Não, não vou falar sobre o perigo de andar nos escuteiros. Todos vocês já são grandinhos para saberem o que fazem.
Falo-vos do...(suspense!)...CHOCOLATE!

Não vos vou mentir, é grave, sim senhor. Tenho em minha posse uma série de documentos que relatam um sem número de ofensivas planeadas há décadas que envolvem a continuidade da nossa sociedade tal como a conhecemos. E é com preocupação que me dirijo a todos vocês.
Todos nós já comemos o nosso chocolate. O nosso Twix. Um ou outro Snickers. Por Deus, há quem mame M&M's como se não houvesse amanhã. Toda a gente está ciente do bem que sabe. Todas as marcas existem para abranger um público o mais diversificado possível. Mas o objectivo é único. ENGORDAR! Sim, sim, é verdade. É tudo uma estratégia para aumentar significativamente o diâmetro do ser humano e diminuir a sua capacidade de deslocação. Em suma, tornar-nos presas fáceis! Na informação a que tive acesso consegui também retirar o desfecho final deste maquiavélico plano:
Num futuro não muito longínquo, basta que salte o açúcar ao Capitão Estrelitas (sim, que os cereais também estão nesta!!), esta raça alienígena irá começar uma ofensiva com vista a DOMINAR O MUNDO! E será fácil! Correr durante 5 segundos antes da exaustão não nos safa, e não há cama cuja parte de baixo nos esconda.

Portanto meus amigos, eu vou cortar no chocolate. Espero é que não digam algo do género: "Ah, ele toma conta do assunto, vamos cá papar mais um KitKat!"

Tenho de ir, que ouvi movimento na dispensa,
o Homem do Meio.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Maleita do dia

O escolhido para...hoje...amanhã...não, hoje é:
Sofrer de "jet lag" após passar 12 horas na faculdade a olhar para um ecrã, e não saber em que dia se está.
 Já agora, que dia é hoje?
o Homem do Meio

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Manhattan

Há músicas que inspiram (tal como qualquer outra coisa).
E a inspiração muda.
Circunstâncias, mentalidades, estados de alma.
Muda-te a ti e a mim.
A esperança diz "espero que para melhor".
Mas parte de nós afirma "para melhor, certamente".

Em jeito de celebração.
"Mas celebrar o que?"
Isso alguma vez interessou?

Kings of Leon - Manhattan


Cheers!
o Homem do Meio.

domingo, 18 de abril de 2010

Café Destino

Importas-te que me sente?
(Um café, por favor)
Acho que ainda não nos conhecemos. Acho, porque do futuro posso apenas esperar. E aposto que tu também.
Quero saber mais sobre ti, mas serei paciente. Porque aquilo que farás já surte efeito. Farás do meu "já" um "depois" poético, sem fazer esperar os deuses, mas com calma.
Farás com que sorria só de te ver. Deixarás escapar uma gargalhada quando perguntar quem és, por saberes que não conheço ninguém como a ti.
Vais procurar o meu abraço sempre que esses olhos se encherem de lágrimas. Morrerei um pouco se for eu a causa.
Vais gostar dos meus amigos tal como eu gosto, e eu gostarei dos teus só por saber que te fazem feliz. Ficarás radiante por saber que a M. te aprova.
Teremos conversas de horas e quando te deixar em casa vou querer mais.
Quando olhar para ti em silêncio deixarás que o faça, porque encontrei algo em ti que adoro.
Farás com que me sinta sempre bem, mas vais-te irritar com a fraca conta que tenho de mim.
Vou adorar a maneira como ficas quando vês uma criança ao mesmo tempo que achas a minha (des)controlada lamechice adorável.
O meu carro será o teu. A minha casa também.
Não será só rosas. Mas, quem sabe, valerá a pena.
Tenho de ir.
(Moeda a cair na mesa)

Vejo-te em breve?,
o Homem do Meio.

terça-feira, 13 de abril de 2010

(quase!) História de Amor

Embora um bocado deslocada da realidade, a situação que a seguir vos apresento é uma metáfora altamente rebuscada das crueldades das relações amorosas, que apenas os mais atentos e perspicazes perceberão.

Imaginem um casal. Intimidade q.b. Coisas em comum, mais que muitas. Toques, contacto subtilmente explícito e olhares misteriosos, confere!
Chega a altura daquele primeiro beijo. Aquela parte em que nos filmes se sente a música a subir de volume e a câmara a fazer um grande plano, a apontar para o duplo "headshot". Aproximam-se as faces e aumenta o suspense.
Quando o impacto se mostra iminente, corta-se a música e a voz feminina surge...





"Apetece-me um bitoque..."




Até um dia,
o Homem do Meio.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Motherf*ckin' Summer (+18)

A Primavera vem primeiro. Eu sei. Mas essa libelinha de merda bem que podia ficar em casa a meter as florzinhas, e as abelhinhas e as restantes panisguices no "ass", que de alergias estou eu farto. Eu cá quero é Sol, e calor, e idas à praia, e t-shirts, e calções e mais uma data de caralhices que se vierem de mãos dadas nem me faz diferença. Se pelo caminho encontrarem o Outono, partam-lhe a tromba e digam para o gajo sair do armário. Ao Inverno, partam-lhe as perninhas só para servir de lição, e não se armar em fresco. A Primavera, assumida, não digo para a desflorarem porque isto é suposto ser desagradável, mas metam-na num quarto com o José Castelo Branco, que rapidamente lhe passam os tiques. Isto tudo com a minha permissão, e ainda um sonoro "Dá-lhe, foda-se!"
Eu cá, amo o Verão. De preferência, Verão e férias. Sim, porque férias sem Verão, é como ir a uma casa de putas à procura do "amor verdadeiro". Não que eu saiba como são. Ouvi dizer...na rua...

Se acharam este post muito forte, abram os olhinhos e vejam a classificação de cima. Se não...
Obrigado por lerem.

Até um dia,
o Homem do Meio

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Facebook, ou...

...o supra-sumo das páginas de interacção social. O Usain Bolt dos 400 metros de partilha. O Chuck Norris do relacionamento. E atenção que esta última foi usada com perfeita noção da enormidade que representa.

Imaginem que têm uma borbulha num sítio estranho. O Facebook é o único que vos encontra 100 pessoas que sofrem do mesmo problema. Gostam de meter iogurte de morango no esparguete à bolonhesa? Vocês e mais 154460 caramelos. Até podem criar um grupo chamado "Depois de me levantar da cama tropecei no tapete dei um mortal encarpado com rotação em direcção à porta enquanto vestia as calças voltei a dar um mortal mas agora a calçar as meias esqueci-me que tinha as escadas mesmo atrás escusado será dizer que me parti todo mas o que realmente me chateia é que entalei os tom#### no fecho" e vão encontrar uns 10 monotesticulares a dizer "Sim, eu odeio quando isso me acontece".

E ainda pude expressar a minha raiva, depois de ter sido "excomungado" daquela coisa das quintas, aderi a um grupo chamado "Mais um convite para FarmVille, chego-te o lume à quinta e degolo-te as vacas".

Where else?

Até um dia,
o Homem do Meio gosta disto.

quarta-feira, 31 de março de 2010

1ª Exposição "Descobrir Novos Autores"


Como podem ver no cartaz, de dia 1 a 30 de Abril vai decorrer a 1ª Exposição "Descobrir Novos Autores" na Associação Académica da Amadora.

"Criado por Rafael Loureiro, Descobrir Novos Autores é um espaço que promove, tal como o nome indica, Novos Autores. Num momento em que e tão difícil editar e divulgar em Portugal, este projecto servirá de plataforma para a divulgação de novas obras editadas por autores portugueses. Descobrir Novos Autores terá com estratégia principal, ciclos de exposições que percorrerão o nosso país."
- Retirado do site http://descobrirNovosAutores.blogspot.com

Apareçam e apoiem os autores portugueses que tanto lutam para ver o seu trabalho reconhecido.

Até um dia,
o Homem do Meio.

domingo, 28 de março de 2010

Depois de escrever isto, a National Geographic vai querer contratar-me.

Andam nas mesmas ruas que nós. Respiram no nosso ombro, mesmo sem sabermos. Partilhamos um dia a dia, sem noção, nem mínima, de quem são. Mas a sua paixão denuncia-os. O seu amor por um símbolo torna-os, não perigosos, mas cegos, imprudentes. Podemos escutar, no pico do seu êxtase, entre grunhidos, a palavra "BENFICA", se estivermos atentos o suficiente.
Convivemos com eles, os ditos benfiquistas, de forma pacífica. São tão perigosos como qualquer um de nós...EXCEPTO em dia de jogo.
Depois de um jogo, tornam-se daltónicos. Semáforos perdem significado. Não interessa se podem ser atropelados ou não. Só alguns conseguem chamar-lhes a atenção e furar por entre o aglomerado de gente.  Principalmente se vierem depressa e não mostrem intenções de parar. Uma tonelada a passar por cima dos "adeptos do clube da Luz" não significaria nada, não no dia em que o seu clube joga. Não no dia em que conseguiu uma vitória. E chega a ser tocante a maneira como um evento desta natureza os transforma. A maneira como alguns deles perdem a compaixão pelos seres da sua própria espécie, e gritam coisas do género "ISSO, SALTA PARA A FRENTE DO CARRO! ANORMAL!". Perturbador.
E demora a passar. Durante horas a sua única forma de comunicação são parcas palavras. "AH GRANDE BENFAS!", "CARREGA!!", "BENFIIIICA!". Assustador, no mínimo.

Deste dia de observação temos bastantes conclusões a retirar.
Nunca se aproximem das imediações da sua "sede" em dia de jogo.
Se o fizerem levem carro. Pesado. Um limpa-neves será adequado.
Caso não o arranjem, coloquem-se atrás de um condutor com o pé pesado e não o larguem. É a única maneira de transpor a manada.
Preparem-se para o pior.

Não percam o próximo episódio, onde iremos falar da importância do arame farpado no cultivo da batata doce.

Até um dia,
o Homem do Meio.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Clássicos do Meio

"But, tell me, did the wind sweep you off your feet
Did you finally get the chance to dance along the light of day?"
- Train - Drops of Jupiter



Até um dia,
o Homem do Meio

terça-feira, 23 de março de 2010

Got Paper?

Tenho medo de ir dormir.
Com a quantidade de papel que se estraga em campanhas para associações de estudantes, receio acordar embrulhado em panfletos da Lista "O meu pai tem uma casa de cópias e fez-nos um preço especial", tal como um bibelot, assim, à antiga.

A Protecção Civil foi chamada, esta segunda-feira, para uma intervenção urgente num instituto politécnico de Lisboa. Os meios destacados para a Madeira foram desviados, tais como aqueles que mantinham o José Castelo Branco dentro de casa, devido ao perigo de morte por corte de papel em que se encontravam milhares de estudantes.

Se alguns dizem que o pulmão de Lisboa é no Monsanto, vão mudar de ideias quando entrarem na faculdade que frequento e se lembrarem que o papel vem das árvores.

Assim que eu acabe de transformar aqueles cartazes em aviões de papel, vou invadir os EUA, o Canadá e toda uma parafernália de países do Médio Oriente. Nem vão saber o que os atingiu.

Se usássemos aquele papel todo para fazer mais cópias da Bíblia, havia muitos países aí a dizer "Muçul-quê"?

Se usássemos aquele papel para fazer mais livros educativos, havia sem-abrigo a dizer "A senhora poderá eventualmente fazer o obséquio de me facultar uma fraca quantia para que me possa alimentar convenientemente"?

A tua mãe é tão gorda, mas tão gorda, que para limpar o rabo tem duas hipóteses: ou deita a floresta da Amazónia a baixo ou vai à minha faculdade.

Terei sido explícito?

Até um dia,
o Homem do Meio.

sábado, 13 de março de 2010

Parabéns...

...mas atrasados. Com 9 dias de atraso, sejamos exactos.
Fez um ano em que aqui apareceu o primeiro texto - ainda bem que assim foi - e parece que foi ontem. Dar vida a este espaço é um pouco da minha vida, e tem-se tornado cada vez mais importante. Espero que consiga ter mais inspiração no futuro para vos poder "impingir" partes de mim, e espero igualmente que se mantenham por perto para deixarem que eu o faça.

Hoje e no que aí vem, Escolhe o bom caminho e segue sempre.

Até um dia,
o Homem do Meio.


domingo, 7 de março de 2010

Keep Me Where The Light Is - Parte 3

Dois meses depois da fuga e ainda as feridas ardiam. Agora com menos intensidade, ou por fases, mas ainda o limitavam. Tanto, que o isolamento passou a ser aquilo que mais sentido lhe fazia. O telemóvel, embora de novo com vida, ainda albergava muitas mensagens ignoradas e chamadas não atendidas.
Embora apenas um espectador, esta apatia já passava os limites da minha compreensão. Era inevitável o tentar que ele ouvisse algum dos meus gritos de raiva. E quando eu menos esperava, ele surpreendeu-me. Surpreendeu-me quando se deixou levar pelo ímpeto, que por sua vez quis quebrar a solidão e sair. Caminhar até ao bar mais próximo, aquele cujos cartazes onde se lia "Música ao vivo" lhe tinham suscitado alguma curiosidade, havia algumas semanas.
Arranjou um lugar ao balcão, onde pudesse ver o palco. Ainda só se ouvia o barulho da pequena multidão que se tinha juntado lá dentro, a mesma que lhe tornava difícil o contacto com o barman. Uma estranha aproximou-se dele. Eu? Surpreso. Aquela face de desespero ainda não tinha desaparecido:
- "Aposto que aquilo que vem a seguir consegue tirar-te essa cara triste." - Disse ela, com um sorriso confiante e um olhar desafiante. Tudo nela era belo, e em qualquer outro dia suscitar-lhe-ia interesse. Em qualquer outro dia. Por isso a resposta não poderia ser outra que não um encolher de ombros e um sorriso de agradecimento, voltando de novo a olhar o copo que repousava à sua frente. O suficiente para o olhar desafiante dar lugar a um olhar de preocupação, que a mim me deixou curiosíssimo.
- "Promete-me que ficas até ao fim." - Disse, num tom sério.
- "Não te posso prometer isso. Nem sequer te conheço." - Respondeu ele, sincero na sua vontade, sem sequer olhar para ela.
- "Claro. Vejo-te por aí." - Terminou, e virou as costas. Eu não sabia bem o que havia de fazer, se tentar atingir com uma base para copos o bloco de gelo ao qual me encontrava agarrado, ou segui-la, para perceber o porquê de tanta preocupação com um desconhecido. E foi o que veio a seguir que me deu a resposta que precisava.
A estranha sentou-se num banco, bem ao centro do palco. A estranha, de cabelo escuro apanhado, ia actuar naquela noite. A estranha, que apaixonava qualquer um à sua volta, agarrou na guitarra que permanecia ao seu lado. A estranha deixou de o ser aos primeiros acordes. Eu reconheci-os. Ele também. E se havia dúvidas, acabaram quando aquela voz, inesquecível, começou a cantar:
- "Keep me where the light is..." - enquanto olhava para ele. Enquanto o colava àquele banco.
(continua)

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

sábado, 6 de março de 2010

Roleta "Meio" Russa

"You can't fight tears that ain't coming, Or the moment of truth in your lies. When everything feels like the movies, Yeah, you bleed just to know you're alive"
- Goo Goo Dolls - Iris
Regularmente ocupamos o nosso lugar naquela sala escura, com aquela mesa velha ao centro, onde repousa o revólver das nossas vidas. Chega sempre a altura da resolução. Onde a dúvida se dissipa e a verdade emerge. Agarramos na arma, rodamos o barril e de dedo no gatilho esperamos que as nossas acções não tenham mexido nas probabilidades do jogo. A verdade é que nem nos apercebemos das chances que tínhamos até ao disparo.
Chega sempre a altura da resolução. Onde apontamos a arma a um dos pés e pressionamos o gatilho. E é disso que precisamos. Se sentir a dor, ou o alívio de apenas ouvirmos um "click". Acontece que, às vezes, precisamos de destruir um pé para aprendermos a andar em frente. Precisamos de sangrar para a cura nos tornar mais capazes.
O frio do metal, e o estrondo daquele disparo, e a dor provocada pela bala é tudo o que precisamos para destruirmos, aos poucos, o medo.
Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Que se lixe...

E lá vai uma canção de amor.



Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Something...

"In a daydream, I couldn't live like this.
I wouldn't stop until I found something beautiful.
When I wake up, I know I will have
No, I still won't have what I need."
- Needtobreathe - Something Beautiful





Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O Corredor

Digamos que há um corredor. Onde o papel de parede já se descolou e a melancolia, qual humidade, grita mea culpa. Onde a única lâmpada fluorescente que deveria iluminar o espaço se deixou envelhecer (muito por culpa da solidão e da falta de propósito) e agora apenas nos honra com alguns periódicos "flashes". Onde o soalho se torce e retorce, rachado e gasto, de tanta despreocupação que ali pisou, mais ou menos violenta. Com uma porta (esta sim, bem tratada, de madeira escura, envernizada e de entalhes belíssimos) que se mostra, se distingue.
Quando se chega a este corredor, a única coisa que se quer ver é a porta. Renegar o resto, o desastre que a envolve.
Sento-me no chão, contra uma das paredes, e olho à volta. Já se distingue alguma beleza no meio do caos, mas mesmo assim... Voltei a querer reparar tudo o que puder antes da porta se abrir. Eu sou aquele que olha ansiosamente para o destino sem querer apressar a sua chegada.

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cantos

De vez em quando dói. E dói a sério. Magoa, marca, traumatiza. E deixamos que tudo passe, ou tentamos que assim aconteça.
Sempre? Não.

E se aquilo que nos magoa é algo de que realmente gostamos? E se aquela dor é a ultima lembrança depois de tanto aconchego, nem que tenha sido em incerteza?
Isolamo-nos, enrolamo-nos, ignoramos e sofremos. No canto mais escuro, com a melodia mais lenta, com as melhores memórias em mente. Queremos paz, queremos sossego. Fechamos os olhos para nos podermos concentrar nela, na dor, enquanto deixamos que nos leve, nos encante, nos envolva, sem resistência, sem qualquer luta.
Enquanto assim for, não acabou. Fazemos o maior dos esforços para trazer só mais um bocadinho daquele sonho acordado, do bem-estar, é a mágoa que nos prolonga o que é bom. O que o foi. Até que genuinamente saia da nossa vida.
Porque o que realmente dói, do que temos verdadeiro medo, é que um dia acordemos e já não doa. Já nada signifique. E não podemos deixar que isso aconteça, não é?

E se um dia acordares e ainda sentires a mágoa, sem saberes porquê?

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Momento Musical

William Fitzsimmons - If You Would Come Back Home



Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Dir-te-ei o que sinto?

E se me convidares a entrar? Dir-te-ei o que sinto?
E se vieres comigo (até onde, não sei) para que eu te fale daquilo que me faz querer aproximar de ti?
Aquilo que não quero, que realmente me mete medo, é a hipótese de um reencontro casual e futuro. Após cumprimentos q.b., perguntarás como estou, após tanto tempo, para que te fale sobre o longo caminho que apressadamente percorri (porque assim aconteceu), sobre o quanto mudei (porque o fiz) e sobre a resignação que já não mora (porque a expulsei), quando na realidade queria falar sobre coisas que permanecem iguais (porque ainda pensarei em ti).
Ainda que a revelação me pareça um acto suicida, é importante que o faça e que perceba de que lado da porta devo estar. Ainda que a resposta seja a distância, será a primeira vez que vou atrás das certezas.

E é isto. 100º post para falar de coisas. Estou bem. Agora sim, estou bem. Mais 100, e ainda para melhor.

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Não sei para onde vou.

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio - Cântico Negro

A falta de inspiração leva-me a procurar palavras de outrem que falem a minha vontade. Ou a que me mostrem. Obrigado.

Eu sou o Homem do Meio. Sei que não vou por aí. Até um dia.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Até hoje, fui sempre futuro.

"Não foi por acaso que o meu sangue que veio do Sul
se cruzou com o meu sangue que veio do Norte.
Não foi por acaso que o meu sangue que veio do Oriente
se cruzou com o meu sangue que veio do Ocidente.
Não foi por acaso nada de quem sou agora.
Em mim se cruzaram finalmente todos os lados da terra.
A Natureza e o Tempo me valeram: séculos e séculos
ansiosos por este resultado um dia
e até hoje fui sempre futuro.
Faço hoje a cidade do Antigo
e agora nasço novo como ao Princípio:
foi a Natureza que me guardou a semente
apesar das épocas e gerações.
Cheguei ao fim do fio da continuidade
e agora sou o que até ao fim fui desejo:
o Centro do Mundo já não é o meio da terra
vai por onde anda a Rosa dos Ventos
vai por onde ela vai
anda por onde ela anda.
Agora chego a cada instante pela primeira vez à vida
já não sou um caso pessoal
mas sim a própria pessoa."

Almada Negreiros - Rosa dos Ventos

Nada mais a acrescentar.

Eu sou o Homem do Meio. Até hoje, fui sempre futuro. Até um dia.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Probabilidades

Falemos de números.
1 em 10790000 é a probabilidade de se estar envolvido num acidente de avião. Muito baixa, e, curiosamente, nunca me fiz transportar num.
1 em 15,88 é a probabilidade de se cair da cama. Nunca tive de dormir de pé por isso.
Conclusão: definitivamente, não me guio pelos números. Ninguém o faz. E eu, que tão calculista tento ser, contrario-me todas as noites. Está portanto na hora de me libertar dos números, das probabilidades, das incertezas e certezas. Saltar uma ou duas vezes do precipício. Talvez numa delas o chão esteja apenas a um metro.

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Espécie de Revolução

"Come so far, there's no going back
All this time we've been running from it
And where we are, and where we're going to
We'll organise a sort of revolution"
- Fink - Sort of Revolution

Pontos de viragem. De revolução. É disto que se trata. Quando achamos que estamos perdidos, ou quando estamos quase a entrar na resignação pura, algo muda. A inspiração de que precisamos, nas formas mais inesperadas. Aqueles dois segundos antes de um acidente, cinco segundos de um primeiro beijo, hora e meia de um filme, dias de recuperação. Uma frase numa parede, um sorriso, um gesto. Qualquer coisa pode mudar as nossas circunstâncias. É preciso, só, que o deixemos acontecer.

Quanto a mim, a frase na parede quase que o fez, mas foi preciso uma maleita para me lançar verdadeiramente.

E quanto a vocês? Qual foi o vosso ponto de viragem? Qual foi o vosso ponto de partida para a vossa espécie de revolução?

Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Keep Me Where The Light Is - Parte 2

Posso dizer que estava ao lado dele. Embora não me visse, eu estava lá. E não foi uma viagem fácil para nenhum dos dois. Não que a velocidade fosse abusiva. Nem as manobras irresponsáveis. O que mais me preocupava eram as lágrimas que lhe caíam pela face. Os maxilares cerrados. A respiração acelerada. A seriedade assustadora. Ele estava determinado a esquecer tudo. Um novo começo, pensou. Por isso fugiu. Não que a palavra lhe agrade. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Uma fuga. Amanhece agora, quilómetros e quilómetros volvidos, e mesmo quando o sol estiver alto, ninguém vai saber onde ele está. “Eu fico bem. Não me procurem. Darei notícias.” Eram as frases que ocupavam o bilhete deixado na mesa da cozinha, e uma meia dúzia de emails enviados.

À chegada, ao entrar na garagem vazia, a dor é agora acompanhada por raiva. Na casa que tinha comprado para ela. Para ambos. Onde os passos ecoam no soalho. Onde pela janela entra a luz do sol e forma uma única sombra. Onde as malas só trouxeram os pertences de uma única pessoa. O indispensável e uma guitarra. Essa já fora do saco quando ele se sentou na única peça de mobiliário ali presente. Um banco de madeira. O início da terapia, que rapidamente se tornou o fim. A cada acorde, que devia afastar a dor, como aconteceu vez após vez, mais sofrimento. Mais raiva. Memórias. Uma discussão. Um acidente. Lembranças que trazem todos os detalhes. Traição. Uma morte. E tudo acabou aí. No chão se juntam bocados da guitarra. Agora como o seu coração: despedaçada.

Determinado a fazer aquela a sua morada. Não só no papel. Determinado a acabar com o eco, passou o resto do dia a receber a mobília. Entregas, papéis, enganos, a distracção que ele precisava. Um jantar solitário. Em silêncio. Mais calmo. Sem dúvida, mais calmo. No fim, a apatia deixou-o de cabeça em cima dos braços, ainda sentado à mesa. E daí até ao chão. Encostado à parede. Mesmo ao lado da porta que o separa da rua. Olha a guitarra. No mesmo sítio. Ainda despedaçada. O cansaço faz com que os olhos se fechem. Ao longe, uma melodia, talvez do outro lado da rua. Alguém mais partilha o seu gosto pela música. Uma voz feminina. Uma voz desconhecida. Leva a sua mão até à fechadura. Abre ligeiramente a porta, só para ouvir melhor. Naquele alpendre mal iluminado ela canta:

- Keep me where the light is - repetidamente, ao mesmo tempo executa acordes perfeitos, acordes que esperam, que vêm na altura em que deviam...não antes...não depois...

A mesma mão que abriu a porta apaga agora a luz.

- Keep me where the light is.

É ali que ele dorme hoje. Até porque a cama ainda não chegou. E porque aquela voz lhe transmite a paz que ele precisa.

- Keep me where the light is...


Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.

Ano novo, música antiga

Jeff Buckley. Enough said.

Jeff Buckley - Last Goodbye


Eu sou o Homem do Meio. Até um dia.